A irreverente roqueira Rita Lee sempre expôs em suas composições temas instigantes, versando sobre assuntos que normalmente inibem as pessoas em debatê-los ou discuti-los em público. É o caso da música “Amor e sexo”, onde ela definiu as diferenças entre fazer amor e fazer sexo.
Começava afirmando que o “Amor é livro/Sexo é esporte”, entendendo que o livro é permanente, tem vida perene e fica registrado para a posteridade tudo o que nele se escreveu. O esporte é emoção passageira, um prazer momentâneo, uma conquista temporal. E continuava sua analogia em cada frase que segue na canção. “Amor é novela/ Sexo é cinema”. Como na vida real, a novela exibe uma história por capítulos, a cada dia há sempre a expectativa da continuidade do que vai acontecer no amanhã. Não se esquece do cheiro, da voz, do toque. Já no cinema, a história é vivida numa só sessão. No final do filme ficam apenas algumas lembranças, que nem sempre são as melhores. Não se obriga sequer a memorizar o nome do parceiro.
“O amor é latifúndio/Sexo é invasão”. O latifúndio nos leva à imaginação da propriedade, não no sentido do domínio de posse, mas no domínio do coração, das vidas em comum, das cumplicidades. A invasão é transgredir o alheio, entrar sem pedir licença, não ter compromisso, não respeitar a regras.
“O amor é divino/o sexo é animal”. Do amor vem família na procriação, por isso um ato abençoado por Deus, porque é da natureza humana. O sexo é instinto, o desejo, a saciedade de um capricho carnal.
“Amor é um/Sexo é dois”. No amor dois se transformam em um, porque comungam dos mesmos sentimentos. No sexo dois se diluem
em cada um, considerando que não há unicidade, são momentos, vontades determinadas, prioritariamente, pela libido.
“Sexo vem dos outros e vai embora/Amor vem de nós e demora” O amor está na alma, no coração, e então tem vida longa. O sexo está na fantasia, na imaginação do querer desfrutar o gozo do prazer, desaparece quando saciado. O sexo faz bem à saúde, o amor tanto faz bem à saúde como ao coração. Nem é preciso casar ou manter um relacionamento estável para viver o amor, como também o amor não pode ser sinônimo de pudicícia ou preconceito. O amor é o sexo em sintonia com a paixão.
Por Rui Leitão