Na coluna desta semana, proponho uma reflexão sobre um argumento fascinante, mas, a meu ver, falho: a Aposta de Pascal. Basicamente, a teoria sugere que, se uma pessoa acredita em Deus e segue seus ensinamentos, ela pode ganhar a vida eterna, tornar-se um ser humano melhor, um pai melhor, um filho melhor, e assim por diante. E caso Deus não exista, essa pessoa, hipoteticamente, nada teria perdido.
Por outro lado, para quem não acredita, se Deus de fato não existir, a perda seria nula. Contudo, e aqui reside minha convicção inabalável, se Deus existir — e para mim, Sua existência e a de Seu filho Jesus Cristo são uma certeza absoluta —, então essa pessoa terá perdido tudo, inclusive a vida eterna.
Pascal, um dos intelectuais mais brilhantes do século XVII, nascido na França, foi um verdadeiro prodígio em diversas áreas do conhecimento. Matemático, filósofo, escritor, físico, inventor e teólogo, sua obra é estudada até hoje e continua a gerar debates, especialmente sobre a intrínseca relação entre fé e razão. Sua principal obra, “Pensamentos”, que acabei de ler e que inspirou esta coluna, vale muito a pena para quem busca aprofundar-se em seu pensamento.
No entanto, por mais sábio que fosse Blaise Pascal, em sua teoria da Aposta, ele, a meu ver, incorreu em erros significativos.
Primeiramente, Pascal deixa aberta a possibilidade de qualquer divindade, o que diverge de nossa crença em um Deus único e verdadeiro. Para ilustrar essa convicção, basta lembrarmo-nos do livro de Êxodo, onde o Faraó, adepto do politeísmo, perseguia o povo de Deus. Êxodo 7:3-4 é claro ao afirmar a singularidade e soberania divina: “Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó e multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas. Faraó não vai ouvir vocês; e eu porei a mão sobre o Egito e farei sair os meus exércitos, o meu povo, os filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes manifestações de juízo.”
Pascal não errou apenas aqui. Outro equívoco, em minha opinião, é a ideia de que o interesse pragmático em acreditar em Deus possa gerar uma crença falsa ou meramente utilitária. Um Deus que pune aqueles que O buscam por interesse material ou medo invalida por completo a premissa de Pascal de um “ganho sem perda”.
Além disso, Pascal não considerou que “agir como crente” não é o mesmo que “ser crente”. Ser crente implica uma fé genuína, uma convicção do coração. Não basta simular a fé; é primordial crer de verdade, pois Deus conhece a profundidade da alma humana. A Bíblia, em Jeremias 17:10, reafirma essa verdade: “Eu, o Senhor, sondo o coração. Eu provo os pensamentos, para dar a cada um segundo os seus caminhos, segundo o fruto de suas ações.”
A verdadeira fé, aquela que nos conecta com o Eterno, não é uma transação ou um contrato de seguro, mas sim um ato de graça divina e uma entrega plena do ser. Não se trata de um cálculo sobre o que se pode ganhar ou perder, mas de um relacionamento forjado na confiança e no amor. A promessa da vida eterna, na perspectiva cristã, não é um prêmio por uma aposta bem-sucedida, mas o transbordar da misericórdia de um Deus que se revela e convida à comunhão. A Aposta de Pascal, ao focar na conveniência, subestima a profundidade dessa relação, reduzindo-a a uma estratégia de maximização de resultados.
Por último, e não menos importante, Pascal engana-se completamente ao afirmar que “nada se perde” ao acreditar em Deus. Digo com convicção que sim, há perdas. Seguir a Deus e viver uma vida de fé exige sacrifícios, renúncias a certos prazeres terrenos e a dedicação de tempo e energia à adoção de limites que uma vida sem fé não contempla. Contudo, essas “perdas” são transformadas em ganhos espirituais e em um propósito maior para aqueles que verdadeiramente creem, pois são vistas como parte de um caminho de santificação e não como um preço a pagar por uma mera aposta. A fé genuína transcende o cálculo racional, pois sua recompensa reside não apenas no futuro, mas na própria transformação do presente.
Apesar de sua mente prodigiosa, Pascal não levou em consideração diversas singularidades inerentes à vontade e à tese que ele propôs, como pude comprovar aqui.
Termino esta coluna com uma frase do próprio Blaise Pascal, em sua homenagem: “O coração tem razões que a própria razão desconhece.”