Se tem coisa que desperta a ira de qualquer pessoa, é ser enganado premeditadamente. A enganação é um dos artifícios mais sujos que podem existir. Estou me referindo à vontade de enganar, seja no amor, na amizade ou em qualquer assunto onde haja trocas interpessoais. É triste, quando você descobre a farsa, dói, magoa, desestimula, mas sobretudo entristece o coração e corrói a alma.
Essas pessoas vivem com o pensamento só em seu favor e no seu bem-estar, deixando para trás qualquer preocupação com o próximo e seus sentimentos, problemas ou particularidades.
A enganação tem pitadas de egoísmo, ingratidão e maldade compondo a sua essência, componentes esses que, a meu ver, são extremamente graves em qualquer ser humano. É preciso haver mais empatia, mais solidariedade, mais amor ao próximo, inclusive para basilar nosso comportamento como cristãos. Cristo, além de amor, é essencialmente justo e trouxe ao mundo o maior exemplo de amor ao próximo que jamais existiu e que jamais existirá. Jesus se deu por amor a nós todos, não tínhamos sequer merecimento para Ele fazer tamanho sacrifício.
As pessoas não se colocam mais no lugar das outras, não fazem o simples exercício de sentar e pensar: “E se fosse comigo?” Isso é o básico para qualquer ponto de partida em praticamente tudo que vamos fazer e que possa afetar outras pessoas. Entretanto, o básico não é mais praticado, o que “virou moda” é o difamar por difamar, usar a boa-fé alheia por usar, usurpar o sentimento nutrido por questões meramente secundárias e covardes. Ninguém mais está preocupado com o sentimento do vizinho, do colega, do amigo, do parceiro e, pasmem, por vezes nem de sua própria família.
Não adianta, diletos amigos, leitores e colegas, depois chegar no domingo e ir à igreja, se ajoelhar e pedir perdão. Deus é misericordioso, e inerrante, não é besta para viver perdoando quem tem vícios de pecado, sabe e mesmo assim continua. O local, inclusive, está errado; a sua auto anamnese está equivocada. Isso é um problema de desvio de caráter e não tem pastor ou padre que dê jeito. O melhor é um bom terapeuta para tentar modificar o jeito de pensar de tanta gente desanuviada.
A enganação também pode ser individual. Tem gente enganando-se a si mesma e acreditando nessa enganação. Tem gente olhando no espelho ao acordar e dizendo ser a última Coca-Cola do deserto. Menos, menos, como já diz um amigo meu: respire fundo, o planeta tem 8 bilhões de habitantes. É preciso ter humildade para reconhecer que não somos o centro do universo e que nossas ações têm consequências reais sobre os outros. A auto enganação é perigosa porque nos afasta da realidade e nos impede de crescer como seres humanos.
Por fim, é fundamental refletir sobre o impacto das nossas escolhas e atitudes. A enganação, seja ela dirigida aos outros ou a nós mesmos, é uma forma de violência silenciosa que corrói relações e destrói confianças. Precisamos resgatar valores como a honestidade, a transparência e o respeito mútuo. Só assim poderemos construir um mundo onde a enganação não seja mais uma ferramenta de manipulação, mas sim uma exceção e condenável. Que aprendamos a olhar para o próximo com mais compaixão e para nós mesmos com mais verdade.
Termino sempre com uma frase e hoje escolhi do Escritor Mário Quintana, do qual sou fã. “A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer”.
Júnior Belchior