D. Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon assumiu a função de Regente, quando, há exatamente 202 anos, a família real retornava a Portugal, cedendo às pressões das Cortes portuguesas. Segundo aponta o pesquisador Paulo Rezzutti, autor de diversos livros sobre personagens da nobreza luso-brasileira “Até mesmo os membros da dinastia de Bragança que haviam morrido enquanto a família real estava no Rio de Janeiro, como a mãe de Dom João VI, a rainha Dona Maria I, o sobrinho do rei, Dom Pedro Carlos, e uma tia, Dona Maria Ana Francisca, tiveram seus corpos levados para Portugal nos navios que transportaram a corte de volta”.
O retorno de Dom João VI foi consequência da Revolução do Porto, em 1820. Era crescente o descontentamento dos portugueses com a ausência do monarca na antiga metrópole. O movimento revolucionário buscava regenerar a nação lusitana. A sua chegada a Lisboa foi registrada pela imprensa portuguesa com entusiasmo: “Portugal convalescido pelo prazer que presentemente desfruta na desejada e feliz vinda do seu amabilíssimo monarca o Sr. D. João VI. e da sua augusta família”.
Durante os 13 anos em que Dom João VI ficou no Brasil, o povo português enfrentou sofrimentos, vitima da miséria e das batalhas. A população portuguesa teve uma redução em torno de meio milhão de habitantes. Daí a insistência em exigir o seu retorno. Os portugueses não gostaram do protagonismo que o Brasil ganhou após a chegada da família real. De fato, a transferência da máquina administrativa burocrática de Portugal para o Brasil, se configurava uma situação esdrúxula, onde o poder emanava da colônia, e não da metrópole. Em 1815, o monarca assinou um decreto criando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, fazendo com que deixássemos de ser colônia e passássemos a ser tratado como parte do reino.
Imaginava Dom João, que seu filho, o Príncipe Regente, defenderia os interesses da Coroa contra qualquer inimigo. Na antevéspera de sua viagem para Portugal, ele teria dito a Dom Pedro: “Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que me hás de respeitar, que para algum desses aventureiros”. Não sabia ele que estava abrindo caminho para a nossa independência.
Ainda no Brasil, chegou a publicar um manifesto em que declarava ilegal a convocação das Cortes e a Constituição que estavam querendo criar, prometendo que ele, ou um dos príncipes, voltaria para Portugal. Mas não lhe sobrava alternativa, sob pena de perder o trono, devido à pressão popular, do clero, da nobreza e da burguesia portuguesa. O Rio de Janeiro, então, passou a ser uma cidade sem rei. Em 07 de março de 1821, assinou um decreto em que comunicava ao povo a decisão em retornar ao seu país de origem. Deu adeus ao Brasil. A elite portuguesa ainda insistiu para rebaixar novamente o Brasil a colônia, revogando a regência de Dom Pedro I, que, no entanto, recusou regressar a Portugal, exclamando, em 9 de janeiro de 1822, ante instâncias do Senado da Câmara do Rio de Janeiro: “Diga ao povo que fico”. Em setembro daquele ano declarou a independência do Brasil e se proclamou Imperador, ao perceber que seu poder estava sendo solapado pelas Cortes portuguesas, para que Lisboa mantivesse o controle absoluto do Brasil, o que acabou provocando o rompimento.
Em 1826 D, João VI faleceu, após adoecer por alguns dias. Há suspeitas de que teria sido envenenado por laranjas colhidas no Palácio de Belém. Com a sua morte, D. Pedro I foi reconhecido pelo governo vigente como Rei de Portugal, com o título de Pedro IV. As duas Coroas foram acumuladas por pouco tempo, abdicando do trono em favor de sua filha Maria da Glória, a Rainha Maria II, que havia sido usurpado por seu irmão, D. Miguel.
Rui Leitão