É incontestável a posição de liderança que o presidente Lula vem assumindo nas relações diplomáticas com o mundo inteiro. Daí porque foi incluído pela revista americana Times entre os cem líderes mais influentes do planeta. Nos cinco primeiros meses do seu terceiro governo tem sido recebido por diversas autoridades interessadas em conhecer suas opiniões e visões sobre o combate à fome e à miséria, o que pensa sobre a guerra, a crise ambiental e como está trabalhando pela retomada do protagonismo brasileiro frente ao cenário internacional.
Esse ativismo diplomático coloca o Brasil numa posição de liderança na discussão dos assuntos que interessam à América Latina. Principalmente porque quase todos os presidentes dos países sul-americanos, eleitos democraticamente, estão no seu primeiro mandato. Portanto, sem a experiência do chefe de Estado brasileiro. Pesa, também, em favor, o fato de que somos a maior nação desta região, e tem Lula como o líder político latino-americano com maior visibilidade no palco global na atualidade.
Não é uma tarefa fácil, se levarmos em conta a diversidade ideológica adotada pelos líderes latino-americanos, aí incluindo Ortega, na Nicarágua, e Maduro, na Venezuela. Não só porque eles são assumidamente alinhados com as ideias radicais de esquerda, mas, igualmente, por serem considerados governantes com perfis messiânicos e historicamente autoritários, antidemocráticos. Trata-se, portanto, de um desafio enorme procurar fazer com que a América Latina se torne mais unificada e ascendente.
Ao sediar a reunião de chefes de Estado da América Latina, o ponto de maior destaque foi a presença do presidente da Venezuela. A retomada das relações diplomáticas totais com aquele país é um acerto do governo brasileiro, se considerarmos que tem mais de dois mil quilômetros de fronteira com o Brasil. Portanto, é necessário que políticas públicas de preservação ambiental, combate ao crime e narcotráfico, devam ocorrer em parceria entre as duas nações.
Contudo, se Lula acertou na atitude, errou, em parte, no discurso. Não havia necessidade de distinguir o ditador venezuelano em detrimento dos demais presidentes, recebendo-o isoladamente com todas as honras de chefe de Estado. Achou pouco, e no discurso, exagerou nos elogios, provocando reações até de lideranças da linha ideológica de esquerda. Como ignorar que a Venezuela, presidido por Maduro, vive sob um regime autoritário, se perpetuando no poder mudando a legislação em seu favor, interferindo nas instituições, perseguindo a imprensa, violando direitos humanos e reprimindo adversários políticos? Um democrata convicto como Lula não poderia ter cometido esse erro. Não há narrativa que desmonte o perfil ditatorial do governo Nicolas Maduro.
O Brasil tem a necessidade de dialogar com todos os países, independente das posições ideológicas ou regimes de governo. A situação política vigente em cada nação é problema dos que lá vivem. É uma questão de soberania nacional. Ninguém tem o direito de interferir.
A estratégia de inserção internacional, que vem sendo efetivada, tem obtido muitos bons resultados, ampliando o entendimento sobre a diplomacia do governo Lula. Erros desse tipo não poderão voltar a acontecer, sob pena de prejudicar a imagem até então construída. Indubitavelmente a política externa brasileira mudou para muito melhor, se compararmos com o governo anterior. Ainda bem que, colocando na balança, verificamos bem mais acertos do que erros.
Rui Leitão