Dentre as muitas características que tenho observado na famosa Geração Z, destaca-se, sem dúvida, seu desprendimento em relação aos assuntos do coração. É evidente que ninguém deve permanecer ao lado de quem não ama; no entanto, a rapidez e a volatilidade desses sentimentos suscitam reflexões alarmantes, como se estivessem em uma frenética corrida contra o tempo.
Em apenas cinco dias, testemunhei comportamentos preocupantes e verdadeiros circos emocionais, com pelo menos dois “palhaços” envolvidos: o idealizador da situação, o condescendente que a aceitou e, por fim, aquele que desfez em instantes o que havia construído dias antes. As novelas turcas parecem meras fábulas diante do caos emocional que presenciei. Como é possível declarar amor em três dias e, cinco dias depois, romper como se fosse a coisa mais natural do mundo? Essa volatilidade é um reflexo perturbador de uma geração que muitas vezes parece carecer de profundidade emocional e compromisso genuíno.
Pergunto-me se essa visão crítica é fruto dos meus 44 anos ou se sou apenas um espectador impotente diante de oportunidades perdidas, observando comportamentos que exigem uma dose assustadora de descaramento e uma flagrante falta de caráter. É desolador ver parte dessa geração, ainda tão jovem, com o coração endurecido, trocando de parceiros como se fossem objetos, negligenciando a profundidade e a importância de um amor verdadeiro.
Os jovens sérios dessa geração enfrentam um dilema: estão sufocados por uma cultura de libertinagem que domina nossa sociedade, onde recorrer a cultos e missas — como se fazia no passado — já não surte efeito. Muitas vezes, as próprias noviças e irmãs, em seu fervor exagerado, tornam-se exemplos a não ser seguidos. É triste constatar que uma família estruturada, ao contrário do que se imaginava, não garante a formação de filhos éticos; em muitos casos, é justamente nela que se revela o picadeiro de um circo calculista e insensível.
Essa degradação moral é um sinal claro de que nos aproximamos de tempos sombrios, comparáveis a Sodoma e Gomorra. Enquanto muitos pais ignoram — ou, pior, compactuam — com comportamentos mesquinhos e destrutivos, aqueles que se esforçam para educar seus filhos com princípios, correção e valores travam uma batalha colossal. A ameaça de relacionamentos tóxicos e destrutivos é real e iminente; estamos jogando uma roleta russa emocional.
Felizmente, meus filhos, em meio a esse caos, preferem a companhia de livros e passeios tranquilos a se lançar no mundo exterior. Infelizmente, muitos tratam o amor — um dos sentimentos mais nobres — com total descaso, desvirtuando sua essência e substituindo a empatia por um oportunismo que nada tem a ver com o que o amor verdadeiro representa.
E aqui reside a maior tristeza: parte da culpa é nossa, por não termos sabido educar, corrigir e disciplinar quando era necessário. O Estatuto da Criança e do Adolescente complicou ainda mais esse cenário; o papel do educador, antes exercido com autoridade e afeto, foi distorcido a ponto de qualquer tentativa de correção ser vista como violência. Hoje, as sandálias havaianas, que simbolizavam tanto carinho quanto disciplina, já não podem ser usadas para um simples puxão de orelha, pois a linha entre educar e agredir se tornou tênue demais. Vivemos numa era em que até levantar a voz pode render uma visita do conselho tutelar, criando um clima de medo e insegurança na educação familiar.
Hoje, agradeço por algumas palmadas que recebi — e mereci —, pois, se não fossem as “adoráveis” havaianas, talvez eu tivesse seguido um caminho bem mais sombrio. Meu pai, um português rigoroso, não contava histórias: suas correções eram firmes, e seus cinco filhos cresceram fortes e de bom caráter. Essa firmeza, hoje criticada, foi o alicerce de nossa formação — algo que a modernidade parece ter esquecido.
Outro fator relevante é que, hoje, pai e mãe trabalham, terceirizando a educação para escolas e cuidadores. Em um mundo onde a responsabilidade é compartilhada, a vida tornou-se mais complexa, e, sem uma base familiar sólida, os problemas só se agravam. Esse cenário exige uma reflexão urgente: se nós, pais, abandonarmos nosso papel de educadores, a sociedade pagará um preço altíssimo no futuro.
Termino sempre com uma frase e hoje escolhi a frase de Santo Agostinho, um dos maiores teólogos do cristianismo: “A medida do amor é amar sem medida”.
Júnior Belchior