O Carnaval dos anos 60 era realmente uma festa popular, numa manifestação de euforia coletiva, em que a população conseguia de forma espontânea cantar suas dores e prazeres, usando do humor irreverente contido nas letras das marchinhas ou nas fantasias caricatas de personalidades.
O Carnaval de rua tinha a participação das famílias, independente das faixas etárias, porque o custo da alegria era muito barato e o clima era de absoluta tranquilidade, sem o risco da violência urbana tão presente na atualidade. O povo saía às ruas com fantasias de pierrôs, colombinas, palhaços, piratas, zorros, odaliscas, marinheiros, mascarados, etc.
Durante as tardes dos três dias de Carnaval, a atração era o corso no centro da cidade, mais concentrado na Lagoa (Parque Solon de Lucena). Os de melhor condição financeira seguiam o cortejo em carros luxuosos, enquanto os mais pobres utilizavam camionetes e caminhões, e a maioria do povo assistia de pé ao desfile automobilístico.
Tanto na rua, quanto nos clubes, eram indispensáveis os confetes e as serpentinas. A gurizada se divertia com seringas que disparavam jatos d’água nas pessoas, assim como o “mela-mela” com banhos de talco. Não era proibido o lança-perfume, mas só os ricos podiam adquiri-lo.
Os blocos desfilavam pelas ruas ao som das marchinhas executadas por orquestras. Os grandes sucessos eram “Me dá um dinheiro aí”, “Índio quer apito”, “Cabeleira do Zezé”, “Máscara Negra”, “Pó de Mico”, etc. Não existiam os trios elétricos, nem os abadás. Os ritmos eram o frevo e o samba. Entrar no bloco era facultado a quem tivesse interesse. Todos se misturavam, sem segregação de classes sociais. Logo, eram desnecessários os cordões de isolamento que existem hoje.
Os bailes mais elitizados aconteciam nos clubes Astrea, Cabo Branco e AABB. O folião se sentia seguro nesses sodalícios e brincava até o amanhecer do dia.
O Carnaval dos anos 60 tinha um que de romantismo que desapareceu nos tempos atuais. Na atualidade tornou-se indústria, movimentando grande volume de recursos financeiros e criando considerável número de empregos temporários. Portanto, passou a ser um evento economicamente rentável. Brincar o Carnaval agora custa caro. Tudo faz parte de um planejado marketing, com interesses econômicos e turísticos. Falta naturalidade na folia carnavalesca.
Tenho uma dica para quem não vai sair de casa para o Carnaval de rua: ouvir a programação especial das Rádios Tabajara FM e AM, onde poderá recordar das músicas carnavalescas de antigamente, que se tornaram clássicos. Os saudosistas se sentirão voltando no tempo e, de certa forma, integrados à folia. Mas não serão esquecidas as que fizeram sucesso recente e estão fazendo atualmente. A Tabajara é uma emissora que faz história. Acompanha todas as manifestações culturais no passar dos anos, desde 1937.
Por – Rui Leitão