A FUNARTE — Fundação Nacional de Artes é o órgão responsável pela definição das políticas públicas de incentivos às artes visuais, à música, à dança, ao teatro e ao circo. Nesta semana lançou um edital em que não permite a participação de bandas de rock no concurso que promove a reposição de instrumentos de sopro em grupos musicais. A restrição causou surpresa e perplexidade. E não é para menos. Qual a razão disso?
Pesquisando na internet encontrei o motivo. O atual presidente daquela instituição, o maestro Dante Mantovani, recentemente, numa entrevista, havia produzido a seguinte pérola: “Os Beatles surgiram para implantar o comunismo em escala mundial a serviço de Moscou durante o período da guerra fria”. Uma idiotice sem tamanho. Integrante da ultra-direita, vê comunismo em todo lugar. E mais: “o rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto”. Está aí a provável explicação da decisão em excluir as bandas de rock do concurso. Aliás, é preciso dizer que esse cidadão é terra planista, o que por si só, já coloca em dúvida a sua sanidade mental.
Ele desconhece que o governo soviético comungava do mesmo pensamento, considerando que o tipo de música tocada pelos Beatles, causava delinquência, alcoolismo e vandalismo. Ignora, igualmente, que o cineasta Milos Forman, afirmou em 2000: “Parece ridículo, mas não é. Estou convencido de que os Beatles são parcialmente responsáveis pela queda do comunismo”. Nikita Khrushchev chegou a declarar que “a guitarra elétrica é inimiga do povo soviético”. A banda mais popular do planeta foi banida da União Soviética e quem a escutasse era acusado de espalhar propaganda ocidental.
O ROCK É COISA DE COMUNISTA?
Os lados extremos da direita e da esquerda harmonizando conceitos sobre o rock. O que desmente a insinuação de comunismo nessa manifestação musical. Discípulo de Olavo de Carvalho, o presidente da Funarte insiste em afirmar que “Elvis Presley e os Beatles fariam parte de um plano para derrotar o capitalismo burguês a partir da destruição moral da juventude e das famílias”. Um absurdo sem tamanho. O rock nacional, desde os anos 80, se incorporou à música popular brasileira, queira ou não o presidente da Funarte. Negar isso é revelar ignorância cultural.
Não discuto o entendimento de que o prêmio estaria reservado para as bandas tradicionais. Até porque em 2013, aconteceu idêntica restrição. O que causa assombro é a coincidência com o pensamento do presidente da Funarte, ideologizando a resolução de excluir as bandas de rock por questões políticas ou de preconceitos formados pelo conservadorismo da extrema-direita. O fato só chamou a atenção em razão das suas declarações estapafúrdias, levantando suspeição de que a exclusão se deu por motivos ideológicos. Pelo menos uma coisa está provada: o rock não é comunista. Na verdade, já foi cantado e tocado por militantes tanto de esquerda, quanto de direita. Bem como também foi satanizado por ambos espectros ideológicos. E viva o rock brasileiro.