Os 300 milhões. de uma briga sem fim.
“Eduardo ainda é líder?”, brincava um jornalista nos bastidores do programa Roda Viva, na última segunda-feira. O filho do presidente Jair Bolsonaro tinha chegado ao posto horas antes, após uma “guerra de listas”, em que o PSL, dividido, mudava de rumo a cada momento. Em uma série de embates, que envolvem o antigo líder, Delegado Waldir, que, grampeado, chamou Bolsonaro de “vagabundo”, a deputada federal Joice Hasselmann, que acusa os filhos do presidente de disseminarem fake news, o presidente do partido, Luciano Bivar, alvo de operação da Polícia Federal, e a família presidencial, a sigla tornou-se uma panela de pressão.
Todos se perguntam se o caldo vai entornar ou se finalmente a temperatura vai baixar. De onde surgiu tanto fogo amigo? Segundo analistas ouvidos pelo UOL, a raiz da maior crise do PSL desde que chegou ao poder está na disputa pelo controle político e financeiro do partido do presidente Jair Bolsonaro.
Quem tiver o comando da legenda definirá a estratégia nas eleições municipais de 2020, com papel fundamental na definição de candidatos, e administrará fundos que podem chegar a R$ 300 milhões ao longo do próximo ano.
Ainda de acordo com analistas, a pouca importância que Bolsonaro dá às instituições democráticas é outro componente da crise, cujo desfecho consideram imprevisível – estas avaliações assemelham-se à de Gustavo Bebianno, que ocupou a presidência do PSL em 2018 e a Secretaria-Geral da Presidência do país no começo do governo.
“É como um cristal”
O líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), também considera imprevisível o futuro do partido. “É como um cristal. Depois que quebra, é duro juntar todos os caquinhos de novo, mas pelo bem do Brasil, pelo bem do projeto do governo Bolsonaro, temos que buscar essa convergência”, diz o senador. “Com alguns, é bastante improvável qualquer reconciliação”, pondera em seguida.
300 milhões.
Com o rápido crescimento que experimentou nas eleições de 2018, quando elegeu o presidente, três governadores, 52 deputados federais e quatro senadores, o partido passou a ter direito a quase R$ 100 milhões por ano de fundo partidário. Além disso, deverá receber cerca de R$ 200 milhões de fundo eleitoral para as campanhas municipais do ano que vem.
“Como o nosso sistema de distribuição de fundo partidário, fundo eleitoral e horário de TV privilegia o desempenho nas últimas eleições, o partido se tornou o maior agraciado em termos dessas benesses que são distribuídas pelo poder público brasileiro. Sem dúvida nenhuma, isso está na origem de toda essa briga política que a gente está vendo”, afirma Bruno Carazza, economista e, pesquisador sobre financiamento eleitoral.
“A luta interna pelo poder, em relação também aos recursos do fundo partidário e do fundo de campanha eleitoral, exacerbou as diferenças de opiniões, de perspectivas e divisões [dentro do PSL]”, comenta José Álvaro Moisés, professor de ciência política do IEA-USP (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo).
Fonte: noticias.uol.com.br