Difícil entender e aceitar o comportamento da torcida espanhola praticando discriminação racial contra o jogador Vini Júnior, do Real Madrid. Vergonhosas essas manifestações preconceituosas que têm acontecido nos estádios europeus. O jogador brasileiro tem demonstrado muita personalidade ao reagir contra as ofensas sofridas. Nas redes sociais ele afirmou: “Dizem que a felicidade incomoda. A felicidade de um preto brasileiro na Europa incomoda muito mais”.
Inadmissível que, em pleno século 21, ainda exista o mal do racismo, afetando as relações sociais por conta da cor da pele das pessoas. A ideologia da hierarquia das raças ganhando espaços para a manifestação do etnocentrismo, alimentado pelo pensamento de que uma etnia é mais importante do que outras. A explícita intolerância com quem é diferente, considerando a negritude como algo inferior. O discurso reacionário que defende a supremacia branca tem se alastrado nas sociedades do nosso tempo.
Vini Júnior se transforma no símbolo da resistência contra o racismo. Ele decidiu assumir essa luta, representando tantos quantos brasileiros que experimentam, cotidianamente, o constrangimento de serem vítimas do preconceito racial em terras estrangeiras. Embora esse fenômeno também esteja presente nos estádios de nosso país.
A solidariedade mundial que o jogador tem recebido abre a oportunidade para que ele lidere esse movimento que propõe um debate político para propugnar por ações afirmativas e que sejam adotadas medidas repressivo-punitivas para os que insistem em cometer esse crime. Que sejam implementadas políticas públicas e privadas que visem a concretização dos princípios civilizatórios de respeito à igualdade racial.
O ideário anti-racista precisa ser pauta educativa, principalmente no Brasil. Isso é uma questão de reparação histórica. Na nossa sociedade persiste uma cultura escravocrata que fomenta a guerra racial que assistimos no dia-a-dia e se torna um sistema de dominação política, econômica e cultural. Não dá mais para aceitar que tenhamos uma base social violentada de forma cruel pelos que se consideram a elite branca. Somos um país fortemente mestiço. Os negro-descendentes (pretos + pardos) são quase metade da população, muitos vivendo à margem da cidadania.
Vini Júnior, lá da Europa, faz ecoar em todo o planeta a necessidade de que esse fenômeno seja enfrentado com responsabilidade e espírito humanitário. Quando o racista ou preconceituoso externaliza a sua atitude, transformada em manifestação, ocorre a discriminação. A idéia de raças tem que ser a de que são grupos que têm a mesma cultura, considerando história, idioma e tradição de valores comuns, sem que predomine a importância dos aspectos físicos.
O episódio condenável que o mundo inteiro está debatendo, transformou Vini Júnior. em um novo Luther King. Em sendo uma celebridade bastante conhecida em todo o planeta, brilhando nos campos de futebol e se consagrando pela genialidade com que desempenha sua atividade de desportista, faz com que se credencie a ser o ícone desse movimento contra o preconceito racial. A ele todo o nosso apoio.
Por Rui Leitão