O recado da câmara federal — Na última semana, a câmara federal passou por mais um episódio de impunidade e corporativismo. Um escândalo envolvendo um Deputado Federal foi revelado em detalhes pelo fantástico na rede Globo de televisão.
Praticamente todos os jornais do país exibiram reportagens sobre o ocorrido, onde claramente se mostrava propinas sendo entregues a assessores do referido deputado e ao prefeito de sua cidade Natal.
O STF, através do ministro Celso de Mello, pediu a cassação do mandato do paraibano, tamanha eram as provas que se apresentara no processo.
A câmara federal passou então a ter a oportunidade e o dever de mostrar seriedade, altivez e compromisso com o povo brasileiro. O presidente da casa o Deputado Federal Rodrigo Maia, como de esperado, marcou a sessão para apreciação da matéria, dois dias após o final do recesso parlamentar.
Confesso que pelas informações divulgadas e pela informação que o voto seria aberto, cheguei a pensar na minha humilde ingenuidade que a situação era delicadíssima e que em votação aberta, os deputados não teriam coragem de passar pela vergonha de não punir com severidade o crime praticado.
Meu prognóstico passou longe do que aconteceu,200 e tantos deputados votaram para não cassar o mandato, 100 e poucos para cassar e mais uns 100, simplesmente nem apareceram na sessão com medo da opinião pública.
A vergonha estava consumada, as provas contundentes atropeladas, a cara de pau da maioria parecia não importar e fiquei em frente da televisão, incrédulo com o resultado proclamado pelo presidente Rodrigo Maia, que muitos dizem ter sido o maior articulador desse livramento histórico e desavergonhado.
O povo paraibano pode morrer de sede, pode ficar sem água por dias, pode ser surrupiado no cair da noite, enquanto na capital federal parte dos parlamentares deveriam estar comemorando no mínimo com água mineral VOSS de origem norueguesa cujo preço está em torno de 35 reais a garrafinha.
Esse é o Brasil que não tem jeito, que prende e pune com rigidez um pai de família que em ato de desespero rouba um saco de pão para alimentar seus filhos, mas que deixa impune quem desvia dinheiro de uma obra para matar a sede de milhares de pessoas.
O pior de tudo, é aguentar algumas almas já em decadência afirmando que fizeram certo em livrar o coleguinha da cassação, que politicamente isso é lindo, que o coleguismo tem que imperar, o corporativismo tem que seguir e que a sede, a miséria e a fome que se danem.